Mudança climática começa a afetar estações do planeta
Fonte: www.bloomberg.com.br
Por Eric Roston.
Analisando quatro décadas de dados de satélites, cientistas climáticos concluíram pela primeira vez que os seres humanos estão desequilibrando as temperaturas das estações — alterando o que um pesquisador chamou de “a própria marcha das estações”.
Sempre atentos à incerteza dos cálculos e aos negacionistas climáticos, os autores atribuem uma “chance de cerca de 5 em 1 milhão” de essas mudanças ocorrerem de forma natural, sem influência humana.
Como investigadores de homicídios, os cientistas do clima estão continuamente buscando evidências do que também chamam de “impressões digitais”. Ao longo dos anos, eles separaram os sinais humanos dos terrestres, considerando anos e décadas, nos registros de temperaturas, na química marinha, na rápida mudança do Ártico e mais.
O que descobriram é um ritmo desigual de mudança estacional na atmosfera acima das zonas temperadas dos hemisférios Norte e Sul. Embora o aquecimento seja notoriamente global, os verões na troposfera estão esquentando mais rapidamente do que os invernos e isso ocorre de uma forma que a física seria capaz de apontar se os gases causadores do efeito estufa fossem os culpados. Dados de satélites e modelos computacionais das mudanças de temperatura estacionais usados pelo estudo mostram consonância ainda maior do que quando se mede temperaturas anuais médias.
Ben Santer, cientista atmosférico do Laboratório Nacional Lawrence Livermore e principal autor do estudo, compara os resultados sobre a temperatura a uma onda que chega à praia. Para cada ano no registro dos satélites, de 38 anos, a equipe capturou as mínimas e as máximas mensais de temperatura. Nos primeiros anos, as “ondas” vieram baixas. No fim do conjunto de dados estudado, 2016, as ondas tocaram a areia com mínimas mais elevadas — e máximas muito maiores.
Essa é “uma das coisas mais notadas na vida cotidiana”.
O estudo, publicado na quinta-feira na revista Science, também chama a atenção para uma persistente desconexão entre as descobertas que atribuem o aquecimento à humanidade e a como a mesma pesquisa foi caracterizada em depoimentos ao Congresso dos EUA.
Santer já havia feito referência às audiências do Congresso em artigos de revistas revisados por pares ao dedicar um artigo na edição de maio de 2017 da Nature Scientific Reports à verificação de alegações feitas pelo então administrador de proteção ambiental dos EUA Scott Pruitt em um suplemento por escrito para suas audiências de confirmação.
“Para mim, quando alegações incorretas são elevadas ao nível de depoimento formal ao Congresso e passam a fazer parte dos anais do Congresso, é importante combatê-las”, disse Santer.
Os modelos climáticos são notoriamente imperfeitos. Os autores indicam onde se sabe que o aquecimento simulado ultrapassa as temperaturas reais, grande foco de atenção nos últimos anos. Eles comentam brevemente várias explicações possíveis e rejeitam as preocupações de alguns críticos da ciência de que os modelos superestimam a rapidez do aquecimento global.
Santer enxerga o trabalho como um lembrete incômodo da tendência climática geral.
“O acúmulo de evidências me preocupa”, disse. “Este é o tipo de coisa sobre o qual você prefere não estar certo.”