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domingo, 5 de junho de 2016



Fonte: http://www.impresso.diariodepernambuco.com.br/cadernos/vida-urbana/capa_vidaurbana

 Uma cidade construída sobre aterros

O Recife continuará a conviver com os transtornos causados pela chuva nas próximas décadas e uma das razões foi o descuido com o meio ambiente

Publicação: 05/06/2016 03:00

Anamaria Nascimento 
anamarianascimento.pe@dabr.com.br 

Os estragos causados pela forte chuva que caiu sobre o Recife na última segunda-feira não encontram justificativa apenas na força da natureza. A forma como a capital pernambucana tratou seus mananciais, aterrando-os ao longo dos séculos, pode explicar o surgimento dos 160 pontos críticos de alagamento contabilizados pela Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) na cidade. A primeira enchente oficialmente registrada no Recife aconteceu em 1632, com a “perda de muitas casas e vivandeiros estabelecidos às margens do Capibaribe”. Quase 400 anos depois, a história se repetiu e não há solução definitiva à vista para o problema, ou seja, o Recife deve continuar convivendo com os transtornos causados pela chuva nas próximas décadas. 
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o Diario mostra como ações danosas tomadas pelo poder público e pela população contribuíram (e contribuem) para deixar a cidade debaixo d’água. Segundo meteorologistas, fenômenos climáticos extremos tendem a aumentar nos próximos anos. Não há como controlá-los. Para solucionar as inundações, então, será preciso melhorar o sistema de drenagem. Também é necessário que os resíduos sólidos não sejam descartados nas ruas e dar um basta nos aterros irregulares de rios, canais e mangues. 

IMPACTO
Analisando mapas antigos, é possível perceber como o crescimento da cidade causou impactos visíveis sobre os mananciais do Recife, um estuário natural. A “Planta da cidade do Recife e seus arrabaldes”, confeccionada pela Repartição das Obras Públicas da cidade em março de 1875, mostra trechos de rios que “sumiram” na capital. As ilhas do Retiro, Joana Bezerra, Leite e Suassuna, que apareciam como acidentes geográficos, perderam os isolamentos naturais após aterros sucessivos. 
O arquiteto e urbanista Milton Botler ressaltou que isso aconteceu pela prática de acabar com os escoamentos de água da cidade ao longo dos anos. “Boa parte dos nossos manguezais foi aterrada. Deveríamos ser uma Veneza, cheia de canais, mas eles foram ‘entubados’. A água da chuva não tem para onde ir, causando os alagamentos”, explicou. Já o arquiteto e urbanista José Luiz da Mota Menezes lembrou que, originalmente, o Recife é uma grande várzea, com pouca terra seca. “A natureza é equilibrada, mas as construções foram desordenadas e sobre o molhado. Não dá para colocar a culpa na chuva”, enfatizou o urbanista.  


Vídeo NETV com transtornos das chuvas dia 30.05.16. E, tudo indica que serão cenas frequentes...