397, 398, 399, 400! Nas últimas semanas observamos uma verdadeira
contagem “progressiva” da concentração de gás carbônico (CO2) na atmosfera,
pois finalmente atingimos os fatídicos 400ppm. Para esclarecer: partes por milhão (ppm) é uma unidade de medida de
concentração que, neste contexto, significa que a cada 1 milhão de moléculas na
atmosfera, 400 são de dióxido de carbono (CO2). Informação esclarecida, agora a
pergunta: qual a importância desse fato?
Em 2007, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, na sigla em inglês) publicou seu quarto relatório sobre as mudanças
climáticas globais. Neste documento havia a descrição de cenários futuros
possíveis em consequência da elevação da concentração de gases de efeito estufa
na atmosfera. Foi determinado que um aumento de 2°C na temperatura média da
Terra já ocasionaria mudanças no clima global, como degelo de áreas congeladas
e aumento do nível dos oceanos, mas que estas alterações ainda seriam “seguras”
e que a humanidade seria capaz de se adaptar a elas.
A concentração de CO2 apontada como limite para que a elevação da
temperatura global fique próxima aos 2°C era de 400ppm! Devido à composição
deste cenário é que a aferição de 400,08ppm em uma estação de monitoramento no
alto de uma montanha no Havaí é tão simbólica. A concentração de gases na
atmosfera se altera de acordo com condições climáticas, portanto, é provável
que em próximas medições o valor encontrado para CO2 seja abaixo de 400ppm
novamente, no entanto, isso não muda o fato de não termos reduzido nossas
emissões de gases de efeito estufa a um nível mais seguro, como era esperado.
A elevação da temperatura média global é preocupante devido às
conseqüências que poderá trazer, estas incluem diversos tipos de alterações no
meio ambiente que afetarão diretamente a sobrevivência da humanidade, como
mudanças nas épocas de colheitas de diversos alimentos básicos, migração de
regiões costeiras que serão reduzidas pela elevação do nível dos oceanos, entre
outras. É necessário refletir como se adaptar a essas mudanças, mas é mais
premente agir para que essas transformações não sejam cada vez mais drásticas
devido a um maior aumento da temperatura.
Estima-se que em algum momento do Piloceno – há cerca de 4 milhões
de anos – a concentração de CO2 na atmosfera tenha sido maior que 400ppm. Nesta
época a temperatura era entre 2° e 3°C maior do que hoje, o nível dos oceanos
estava cerca de 20m mais elevado e a vida na Terra era diferente de agora.
Antes da era industrial, quando
se passou a utilizar os combustíveis fósseis como principal fonte de energia e,
em consequência, quando as emissões de gases de efeito estufa aumentaram
significativamente, a concentração de CO2 na atmosfera girava em torno de 215
ppm. De lá para cá, já é estimado um aumento de cerca de 0,8°C na temperatura
média global. Além disso, o tempo de permanência de alguns gases de efeito
estufa na atmosfera é elevado, o que significa que os níveis de concentração
atingidos hoje continuarão impactando o clima por décadas.
Muitas discussões sobre o tema têm sido encabeçadas por órgãos
internacionais, principalmente no âmbito da Organização das Nações Unidas
(ONU). Constituídos por diversos países, esses órgãos tem a responsabilidade de
delinear ações que possam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e frear
o aquecimento global. Esta não é uma missão simples e sua efetividade está
atrelada ao envolvimento não só de governos, mas também de líderes industriais
e de negócios, além da conscientização da sociedade civil – que tem o poder de
pressionar esses tomadores de decisões a direcionar suas ações em prol do meio
ambiente.
Muitos impactos poderão ser reduzidos, atrasados ou evitados
através da mitigação das emissões. Esforços para a mitigação e investimentos
nas próximas duas ou três décadas terão um grande impacto nas oportunidades de
atingir níveis de estabilização da temperatura mais baixos. No entanto, adiar a redução das emissões irá
dificultar a estabilização dos níveis e aumentar os riscos de impactos mais
severos nas mudanças climáticas.
Uma das principais formas de
mitigação das emissões é a utilização de tecnologias mais limpas, que emitam
menos gases de efeito estufa do que tecnologias convencionais, como a
substituição da matriz energética baseada em combustíveis fósseis pelo uso de
biomassa. Quando esses projetos de substituição passam por
processos de validação e certificação, são aptos a originar Certificados de
Reduções de Emissões, conhecidos por créditos de carbono.
A utilização de créditos de carbono para a compensação ou
neutralização das emissões de atividades cotidianas, como o funcionamento do
escritório ou de sua casa, eventos e mesmo atividades industriais, incentiva a
implementação de novos projetos que utilizam tecnologias mais limpas,
representando uma colaboração efetiva no combate ao aquecimento global. Este é
um exemplo de ação que pode ser realizada individualmente ou ser incentivada
pelo mercado e por governos, podendo trazer grande impacto nas questões climáticas.