Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/economia/energia-e-sustentabilidade/gerar-energia-eolica-em-casa-ja-e-possivel-7my3q6mo74n2ywc44upvvgk8y
Gerar energia eólica em casa já é
possível
Fábricas brasileiras produzem e vendem a tecnologia, que começa
a ser testada em pequena escala por instituições de ensino, empresas e
residências
Claudia Guadagnin, especial
para Gazeta do Povo -
Já pensou instalar uma turbina eólica no quintal de casa? A
geração de energia eólica na cidade já é realidade e promete, nas próximas
décadas, conquistar um mercado ainda tímido.
Até hoje, a baixa procura por sistemas de pequeno e médio
portes, aliada à necessidade de importar a parte elétrica das estruturas,
encareceu a tecnologia e limitou a expansão dos aerogeradores domésticos no
Brasil. Contudo, esse cenário começa a mudar. De olho num mercado promissor,
empresas estão se esforçando para desenvolver equipamentos capazes de
aproveitar os ventos fracos e irregulares das cidades.
A Enersud, do Rio de Janeiro, foi a primeira brasileira a
produzir aerogeradores para uso urbano. Diferente do modelo tradicional com pás
– bastante utilizado e vantajoso em fazendas eólicas – a proposta da carioca
foi criar turbinas menores, silenciosas e cujas hélices giram em torno do mesmo
eixo, mas de modo vertical.
A característica permite o aproveitamento de ventos oscilantes e foi
resultado, em 2010, de uma parceria com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro),
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e Ampla, concessionária de energia
da região.
“Ela pode ser
instalada em telhados de casas a topos de grandes edifícios. Porém, quanto
maior a altitude, melhor o desempenho”, explica Silvia Azevedo, diretora da
Enersud. Para ela, o mercado soma condições para crescer, amparado pela
expansão das tecnologias renováveis no país. “84% da população brasileira vive
nas cidades. Com os incentivos da Aneel para mini e microgeração distribuída, a
demanda deve crescer”, opina.
Desde 2014, quando as estruturas urbanas começaram a ser comercializadas
pela companhia, 62 unidades foram vendidas no Brasil. Até agora, instituições
de ensino e pesquisa fizeram a maior parte dos pedidos, mas o interesse das
construtoras também aumentou. “É um investimento que valoriza o imóvel e não
pesa tanto, por ficar diluído no financiamento”, diz Silvia.
Em locais com menos ventos, os
aerogeradores domésticos custam mais. “Em regiões em que o vento atinge
velocidades de seis a oito metros por segundo, por exemplo, em torno de 100 a
200 quilowatts/hora costumam ser gerados. O mesmo sistema no Nordeste, onde os
ventos são praticamente ininterruptos, a mesma estrutura produz quase o dobro
de energia, com índices próximos a 350 quilowatts/hora”, compara Maurício
Cardoso Arouca, professor de Planejamento Energético da UFRJ.
Em locais em que os ventos são mais fracos, com média de quatro
metros por segundo, por exemplo, o desempenho pode cair para 62 quilowatts/mês.
Nesse caso, a produção alimentaria apenas algumas poucas lâmpadas, um televisor
e um refrigerador. “Isso eleva o tempo de retorno do investimento. Quanto menor
o volume de vento, menor a economia conquistada”, resume o professor.
Custo da tecnologia deve cair com ganho de escala
Dependendo da potência,
os preços dos aerogeradores urbanos costumam variar de R$ 26 mil a R$ 40 mil.
Na medida em que o mercado ganhar escala – como já acontece hoje com o setor
fotovoltaico – os custos devem diminuir.
No Brasil, ainda são
poucas as companhias que desenvolvem e comercializam opções para uso doméstico.
Além do Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará têm empresas que atuam no setor. No
Paraná, a Mirano – que acaba de firmar sociedade com a Enersud – e a ZM Bombas,
de Maringá, produzem e vendem opções de turbinas domésticas.
Laboratório
Recentemente, a ZM fechou
negócio com o Grupo Positivo, que adquiriu um aerogerador com potência
instalada de 3 quilowatts. Ele alcança 12 metros de altura e está sendo
instalado no campus da Universidade Positivo (UP). Julio Omori, professor do
curso de Engenharia de Energia diz que a novidade deve reduzir a conta de luz
em até 3%. Dentro de um mês, o sistema conectado à rede elétrica começa a
funcionar.
“Nossa intenção também é
gerar economia, mas, muito mais, incentivar a pesquisa do setor renovável nos
cursos de graduação e pós-graduação da UP”. Entre este e o próximo ano, no
mesmo local, o grupo prevê instalar outras estruturas, como um biodigestor de pequeno
porte, uma pequena usina hidráulica e duas estruturas movidas à energia solar.