Brasil integra consórcio internacional para captar e armazenar CO2
Com tecnologia, até 90% do
dióxido de carbono emitido por indústrias e sistemas poluentes deixariam de ir
para atmosfera. Porção acumulada do composto pode ser vendida
Claudia Guadagnin especial para Gazeta do Povo
O Brasil
é parceiro de um projeto norte-americano que trabalha no desenvolvimento de um
sistema para captura e armazenamento de dióxido de carbono (CO 2) – CCS, na sigla
em inglês. A tecnologia, idealizada pelo Instituto de Tecnologias Sustentáveis
da Universidade de Ilinois, nos Estados Unidos (EUA), pode ser instalada em estruturas
de exaustão de indústrias, termelétricas e hidrelétricas, por exemplo, que
emitem gases poluentes à atmosfera, entre eles, o CO 2. Em índices
elevados, o composto químico intensifica os efeitos das mudanças climáticas.
A
novidade reúne membranas que, sob a ação de diferentes pressões e solventes,
isolam os gases do processo de combustão do CO 2. Este, por sua
vez, é retido e armazenado em outra estrutura do sistema. “Funciona como um
filtro: alguns gases continuam indo para a atmosfera, mas até 90% do mais
prejudicial é capturado e armazenado”, explica Guilherme Málaga, engenheiro
mecânico no Instituto de Tecnologia Aplicada e Qualificação (ITAQ) e
responsável técnico pelo projeto. O instituto representa o Brasil no consórcio.
China e Índia também são parceiros do projeto e se comprometeram a intercambiar
informações e somar forças para dominar a tecnologia. Outra intenção da
proposta é a de que a porção de dióxido de carbono acumulada seja vendida no
mercado de etanol, diesel, medicinal, alimentício e de nanotecnologia, para a
produção, neste caso, de nanotubos de carbono. Estimativas do CCS sugerem que,
com algum ganho de escala, o custo da venda do CO 2 possa ser reduzido em até 50%.
A
iniciativa é financiada pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE).
Pela primeira vez na história, o órgão apoia um projeto que busca a mitigação
dos efeitos das mudanças climáticas. A estratégia pretende contribuir com o
alcance da meta apoiada por 195 países durante a 21ªConferência do Clima, em
Paris, realizada em dezembro do ano passado. Ela estabelece como teto para o
aquecimento global o índice de 1,5ºC até 2100 .
Nos
EUA, o projeto piloto vai funcionar em uma termelétrica de carvão da cidade de
Ilinóis.
Produção nacional promete
baratear e popularizar tecnologia
O projeto piloto nos
Estados Unidos tem prazo de desenvolvimento de cinco anos e o investimento é de
US$ 78 milhões. No Brasil, o primeiro sistema deve custar 30% a menos – cerca
de R$ 100 milhões – com possibilidade de maior economia no médio prazo. Parte
da matéria prima utilizada na tecnologia vem do calcário, uma pedra encontrada
em abundância em várias regiões do Brasil, entre elas, Rio Grande do Norte,
Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social) já estuda formas de financiar parte do projeto no país.
Empresas com altos índices de emissão de gases também podem aderir e apoiar a
iniciativa.
A novidade será
oficialmente lançada na TCS Brasil, uma conferência de energia renovável, que
ocorre entre os dias 1 e 3 de junho, em Foz do Iguaçu. Para Everson Talgatti,
presidente da comissão organizadora, a oportunidade de participar do consórcio
oferece ao Brasil condições de desenvolver uma inovação que, num futuro breve,
vai ser indispensável e altamente valorizada pelas nações que a dominarem. “As
possibilidades de produção nacional do sistema vão torná-lo mais acessível. Com
o ganho de escala, a tecnologia promete ficar ainda mais barata e os estudos
podem avançar a ponto de serem criados sistemas para utilização em escapamentos
veiculares e até em lixões”, aponta. Neste último caso, por meio do sistema,
após ser convertido em gás, o lixo não seria decomposto até virar metano, como
ocorre hoje: se transformaria em dióxido de carbono armazenado e posteriormente
comercializado.