O QUE ESPERAR SOBRE O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA SOLAR
Fonte:https://fgvenergia.fgv.br/sites/fgvenergia.fgv.br/files/boletimfgv_-_agosto_v3.pdf
Por:Por Jefferson Villela Ferreira*
Nos últimos anos, o crescimento no uso da energia solar tem impulsionado o desenvolvimento
de muitos equipamentos e soluções tecnológicas,
incluindo os “atores principais” - painéis e inversores - e os “coadjuvantes” – as baterias.
O perfil do cliente vem mudando bastante. Primeiro,
foram os grandes empreendedores e empresas
e, agora, os clientes residenciais. O que chama a
atenção é o desejo destes consumidores em ter a
sua própria fonte de energia com uma considerável
autonomia, o que inclui uma capacidade de armazenamento para suprir a energia que será consumida no período noturno, seja por economia ou
por outras motivações.
De acordo com uma pesquisa da empresa EnergySage (2017), 74% das pessoas que instalam energia
solar doméstica estão interessadas no armazenamento de energia1 .
MERCADO DE BATERIAS
O mercado de baterias solares para armazenamento tem se tornado muito atrativo e promissor,
por isso tem despertado a atenção de consumidores e fabricantes. Estes, portanto, se embrenham
em uma verdadeira corrida ao “ouro” em uma
busca de novas composições minerais, objetivando
uma tecnologia economicamente mais viável e
vantajosa para ambos. Os testes com diferentes
minerais e compostos para baterias surpreendem
muito quem acompanha de perto este assunto, mas por enquanto as baterias de íons de lítio ainda
são as preferidas.
Os sistemas com armazenamento de energia já estão
sendo considerados pelos pesquisadores como uma
excelente alternativa para residências, com custos
que ficarão abaixo do cobrado pelas concessionárias de energia no futuro, segundo estudo publicado
pela consultoria McKinsey (2017) .
A maioria das novas instalações de bancos de bateria nos Estados unidos e na Europa são compostas
por baterias de íons de lítio, pelos já conhecidos atributos: leveza, maior vida útil (que varia entre 13 e 18
anos), menores dimensões, pelo aumento da profundidade de descarga - DoD (Depth of Discharge) e
ainda pela sua boa resiliência.
DESAFIO E PROGRAMA DE INCENTIVO
O grande desafio das empresas que estão tentando
assumir a liderança nesse mercado, tais como Tesla,
LG Chemical, Lithionics, e Panasonic, será vencer o
alto custo das baterias de lítio para torná-las mais
atrativas ao consumidor.
Atualmente, as baterias de íons de lítio, quando
comparadas às baterias de chumbo ácido (lead-acid,
em inglês) podem, ainda, custar mais que o dobro
do preço, representando uma limitação na difusão
de seu uso, de acordo com O’CONNOR (2017)3
.
Para tal difusão do uso das baterias no Brasil, seria
interessante um programa específico para promover o uso de eletricidade renovável com armazenamento, tal qual alguns governos no exterior
praticam. Nos EUA, o governo federal cobre 30%
dos custos através de um Crédito Fiscal de Investimento. Para se qualificar, é necessário utilizar energia solar para recarregar as baterias e não a energia
da rede elétrica.
Para estabelecer um programa semelhante, seria
imperativo conciliar os interesses de todos os stakeholders envolvidos, em particular as concessionárias.
PREÇO DOS EQUIPAMENTOS
E BATERIAS
O preço dos equipamentos para geração de energia solar diminuiu muito nos últimos anos. Hoje é
possível comprar um sistema composto por painéis
e inversores por uma fração do custo quando
comparado ao de dez anos atrás e com reais vantagens sobre os sistemas antigos, pois eles são mais
eficientes, mais confiáveis e compactos e ainda
contam com garantias mais extensas.
No tocante às baterias, as promessas de Elon Musk
de romper a barreira dos US$ 100/ kWh não se
concretizaram em 2018. Os analistas de mercado
preveem que a partir de 2019 o desafio estimulará
também os demais fabricantes nesta “cruzada”
e, com potencial redução nos preços, o mercado
deverá esquentar e atrair muitos consumidores da
micro e minigeração, ou seja, residenciais e comerciais, numa visão simplista.
A seguir são apresentadas algumas citações do
analista de armazenamento de energia do GTM
(Greentech Media Research) na Wood Mackenzie
Power & Renewables, Mitalee Gupta, em matéria
ao Utility Dive.
“Não temos certeza de que US$ 100 / kWh serão
atingíveis em 2018” – Não atingiu.
“O GTM usa preços de “prateleira”, e não os preços
de células, em suas estimativas para os preços de
armazenamento de energia estacionária, e coloca
os preços de “prateleira” de 2018 em torno de US$
207 / kWh. Isso implica um preço de célula inferior
a US$ 207 / kWh porque as células são combinadas
em ”pacotes” e depois em “prateleiras”. O GTM não
torna pública as previsões de preços das células.
Embora os custos das células sejam inferiores e se
traduzam em custos mais baixos para os pacotes,
não é tão fácil assim, pois em se tratando do pacote,
os custos das células representam 75% dos custos.
No nível do rack de baterias, os custos das células são responsáveis por uma porcentagem ainda
menor dos custos gerais, já que os preços dos racks
de baterias também incluem itens como software
de gerenciamento de bateria, embalagem e eletrônicos. – Com certeza, um assunto bem “nublado”.
Gupta também observou que a afirmação de Musk
não era muito específica. Não está claro, por exemplo, se o valor de US$ 100 / kWh é apenas para os
materiais ou se também inclui o lucro”. – O alarde é
grande e precisamos enxergar o “decupado”.
Os preços das células ainda são os principais
responsáveis pelos custos gerais de armazenamento de energia, e o principal impulsionador nas
quedas dos preços das células é o crescimento das
vendas dos veículos elétricos. É muito claro que a
maior parte da demanda por baterias é oriundo das
vendas de veículos elétricos.
Esperamos que o desenvolvimento acelerado
da eletromobilidade e micromobilidade possam
garantir a queda nos preços e tornar as baterias
economicamente mais viáveis, pois eles serão os
maiores consumidores desta tecnologia, e pressionarão os fabricantes a investirem muito em P&D.
VISÃO FUTURA
A aposta é que até 2025, os EUA dominarão o
mercado de armazenamento, com um aumento
de 21% na taxa de crescimento anual composta
(CAGR - Compound Annual Growth Rate) e serão
seguidos pela Austrália e pelo Japão. Vamos acompanhar de perto5
.
Enfim, o armazenamento de energia se desenrolará em 2019 e nos próximos anos e muitas dúvidas
deverão vir à tona, umas serão sanadas e outras
aparecerão e deverão ser desvendadas com muita
dedicação dos pesquisadores e cientistas.
(*) Jefferson Villela Ferreira é arquiteto e Urbanista, Mestre em Sustentabilidade e Eficiência
Energética (UFRJ), possui MBA em Gestão de Energia e Eficiência Energética (Latec/UFF)
e MBA em Gestão de Marketing (IAG/PUC-RJ). Possui 27 anos de experiência profissional
em grandes empresas de Telecomunicações e de Construção Civil, nas áreas de gestão
de eficiência energética, gerenciamento e projetos de obras civis. Atuou como Gerente
de Obras e de Eficiência Energética na Embratel/Claro/Net, é Diretor técnico e fundador
da Br3e - empresa de Consultoría em Eficiência Energética, Auditor líder da norma ISO
50001, membro convidado do U.S. Department of Energy (DOE) e do Superior Energy
Performance (SEP) no tema ISO 50001.