Startup mineira fabrica células
solares tão finas e flexíveis quanto
uma cartolina
Energia solar desce do telhado e ocupa espaço em ponto de ônibus
Fonte: sunew.com.br/wp-content/uploads/2016/06/2016.06.08SUNEW_Gazeta.pdf
Claudia Guadagnin, especial para Gazeta do Povo
O Brasil concorre em igualdade com outros países do mundo na área de
pesquisas sobre filmes finos orgânicos capazes de converter energia solar em
elétrica. Em cerca de oito meses de atuação, a startup mineira SUNEW, que
produz e vende placas OPV – sigla em inglês para painéis fotovoltaicos
orgânicos – já figura como uma das líderes globais neste segmento.
Por ano, a companhia é capaz de fabricar até 400 mil m² dos materiais,
produzidos em rolos. Esta condição aumenta a possibilidade de ganhos de
escala e permite a personalização do produto conforme a necessidade do comprador
A capacidade de geração energética média dos filmes é de 60 megawatts/pico,
mas o índice pode variar de acordo com a intensidade da tinta aplicada no
substrato plástico. Composta por polímeros de carbono é a tinta que, em
contato com a radiação solar, cria o sistema que libera elétrons e forma a
corrente elétrica ligada à rede do usuário. O modelo de captação e distribuição
energética funciona com a mesma lógica das tecnologias tradicionais,
baseadas em placas de silício.
As células solares em filmes
finos e flexíveis podem ser aplicadas em diversos objetos.A variação do OPV, entretanto, garante ao sistema versatilidade suficiente para
que se adapte a diferentes superfícies e conquiste novos mercados não tão
acessíveis às soluções mais conhecidas, como as placas solares tradicionais.
Na prática, os filmes podem ser aplicados de janelas de prédios, vidros de carros a mochilas e capas para tabletes, por exemplo.
Brasil na frente
A tecnologia passou a ser investigada há cerca de duas décadas, mas já
representa a maior promessa do mercado fotovoltaico para aumentar o
aproveitamento solar e popularizar o setor . “Países como Alemanha, Japão e
Inglaterra, por exemplo, já avançados no domínio do mercado solar, estão em
fases de pesquisa e aplicação das OPVs semelhantes à nossa”, conta Marcos
Maciel, diretor da SUNEW.
Criada a partir da convergência de esforços entre o Centro Suíço de Eletrônica
e Microssistema (CSEM) Brasil, BNDES, Tradener, CMU Energia e o fundo de
investimento FIR Capital, a fábrica chegou a contar no início dos trabalhos, em
2011, com representantes de mais de uma dezena de países na equipe para
acelerar o domínio do conhecimento. Hoje, o time formado por 20 químicos, físicos e engenheiros de materiais, além de membros do CSEM, continua
plural, com integrantes de, pelo menos, cinco nações.
Tecnologia chega ao mercado
Neste ano, as novidades já começam a ganhar mercado. O primeiro teste dos
filmes será feito na fachada do novo prédio da Totvs, em São Paulo, uma das
maiores desenvolvedoras de softwares do mundo. O edifício, com previsão de
ser entregue no início de 2017, terá filmes em OPV dentro dos vidros. Eles vão
revestir 4 mil m² de área do empreendimento. A SUNEW ainda não estima o
volume energético que as películas adicionarão à rede elétrica, mas adianta
que a energia produzida deve manter em funcionamento os 3,5 mil notebooks
da companhia. Os vidros custaram cerca de 40% a mais que os tradicionais,
mas a economia mensal com a conta de luz deve recuperar o investimento em
menos de dez anos.
As montadoras também já estão no radar da startup mineira. A Fiat, por
exemplo, está em fase avançada de testes para usar a tecnologia em modelos
da marca. Instalada no teto do veículo, a película solar pode reduzir em até 3%
o consumo de combustível, diminuindo, também, a emissão de CO2 (dióxido
de carbono) à atmosfera. O sistema ainda garantiria, em dias quentes, energia
suficiente para manter um ventilador interno funcionando com o carro
desligado.
Em dois anos, custo dos painéis pode cair pela
metade
Os custos da inovação ainda são altos, com valores que variam de R$ 1 mil a
R$ 1,8 mil por m² instalado. Hoje, a matéria prima à base de carbono para
produção das tintas é importada de países como Japão, Alemanha e Estados
Unidos, mas o domínio da tecnologia por empresas nacionais e o ganho de
escala trazido pela alta da demanda podem alterar o cenário e reduzir os
preços pela metade dentro de dois anos.
Até agora, foram investidos R$ 100 milhões nas pesquisas do OPV no Brasil.
Daqui em diante, contudo, as perspectivas tendem a ser de lucro. “Nosso
processo produtivo é simples, barato e quase dez vezes mais ecológico que o
baseado nas placas solares”, diz Marcos Maciel, diretor da SUNEW. Segundo
ele, são necessários dois anos de economia das placas solares para que o meio ambiente seja compensando pelo processo de confecção do sistema. “No
caso dos filmes orgânicos, o tempo é inferior, porque consumimos bem menos
energia”, diz. A intenção da tecnologia, no entanto, não é concorrer com a
tradicional, e sim, fornecer mais oportunidades ao mercado. “Quanto mais o
setor solar crescer no Brasil, melhor”, conclui Maciel.