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sexta-feira, 22 de julho de 2016




Fonte:http://blog.observatoriodoclima.eco.br/



Atire o primeiro leque quem nunca sentiu aquela leseira ao tentar trabalhar num dia de calor forte. Um grande estudo do Pnud (Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento) publicado nesta semana mostrou que os países tropicais têm sofrido quedas na produtividade dos trabalhadores devido ao aumento das temperaturas globais nos últimos 30 anos. E esse quadro só vai se agravar nas próximas décadas, causando perda em horas de trabalho e tornando os países pobres ainda mais pobres – mesmo que nós consigamos manter o aquecimento global no limite de 1,5oC proposto no Acordo de Paris.
Listamos abaixo sete conclusões do estudo que farão você temer pela saúde dos trabalhadores, especialmente os braçais, e desejar que o outono não acabe nunca.
1 – Trabalhar no calor de fato faz mal à saúde. O corpo humano só funciona direito em temperaturas internas próximas de 37oC. Quando a temperatura externa se é maior que esse valor, o organismo tenta compensar pelo suor. Só que a alta umidade relativa do ar em alguns lugares e épocas do ano e as roupas de trabalho impedem que o suor evapore. O resultado é que o corpo pode entrar em choque por insolação, que no limite é fatal. A maneira como o cérebro tenta evitar isso é reduzir o ritmo de funcionamento do organismo – e, portanto, o ritmo de trabalho, especialmente em atividades que demandam esforço físico.
2 – A medida de “calor extremo” varia de lugar para lugar. Não é preciso estar no verão de Cuiabá para sofrer redução de produtividade por calor. A chamada WGBT, ou “temperatura de bulbo úmido”, índice que mede a tolerância do corpo humano, varia em função de calor, radiação solar, umidade e vento. O limite pode ser inclusive menor que 37oC. Para trabalho pesado, perdas de produtividade começam a ocorrer a 26oC de WGBT.
3 – O impacto em perda de horas de trabalho pode ser dramático. Um estudo recente feito com trabalhadores na colheita de arroz na Indonésia mostrou perda de um terço das horas de trabalho quando a temperatura de bulbo úmido subia de 26oC para 31oC. É possível reduzir o impacto com uma a duas semanas de aclimatação, mas há limites.
4 – Perdas de produtividade por calor já vêm sendo registradas nos últimos 30 anos nos países pobres. Até 2009, a América Latina já havia perdido 2% de suas horas de trabalho durante o dia por estresse térmico. Em regiões como o Sudeste Asiático e o oeste da África as perdas chegam a 7%.
5 – Vai piorar. Hoje em dia, de 10% a 15% das horas de trabalho por ano no mundo já são quentes demais para a manutenção da produtividade. Esse número aumentará mesmo que o aquecimento global seja mantido em 1,5oC. Com 2,7oC neste século (limite inferior de temperatura dado pela soma das metas de corte de emissões dos países), esse número crescerá 10%. Com 4oC, 30%. Para os mais pobres, que geralmente realizam atividades mais dependentes de exposição ao sol, mais calor significa menos trabalho e menos dinheiro no fim do mês. O Pnud aponta que os próprios Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de redução da pobreza ficam ameaçados pelas altas temperaturas.