Por que o CO2 atmosférico não caiu durante a pandemia?
[Imagem: Joshua L. Laughner et al. - 10.1073/pnas.2109481118]
Ilustração da base conceitual para este estudo. As reduções na atividade humana induzidas pelo COVID-19 levaram à redução das emissões antropogênicas. O fato de essas reduções terem ocorrido ao longo de meses em vez de décadas nos permite observar como a atmosfera, a terra e o oceano provavelmente responderão em um cenário futuro com controles de emissões mais rígidos. Essa análise ajuda a identificar caminhos eficazes para mitigar a poluição do ar e as emissões de GEE relevantes para o clima. Crédito da imagem: Chuck Carter (Keck Institute for Space Studies, Pasadena, CA).
Enigma climático
Um amplo levantamento dos efeitos da pandemia sobre a atmosfera, usando satélites de monitoramento de várias agências espaciais, chegou a um dilema.
A pandemia e as limitações impostas a viagens e outros setores econômicos reduziram drasticamente a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa em apenas algumas semanas.
No entanto, enquanto as emissões de dióxido de carbono (CO2) caíram 5,4% em 2020 em comparação com o ano anterior, a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera continuou a crescer aproximadamente à mesma taxa dos anos anteriores.
Em outras palavras, embora a queda nas emissões tenha sido significativa, o crescimento das concentrações atmosféricas de CO2 permaneceu dentro da faixa histórica de variação ano a ano causada por processos naturais. Além disso, o oceano não absorveu tanto dióxido de carbono da atmosfera como nos últimos anos, provavelmente devido à pressão reduzida de dióxido de carbono no ar na superfície do oceano.
"Durante perturbações socioeconômicas anteriores, como a escassez de petróleo em 1973, você pode ver imediatamente uma mudança na taxa de crescimento de CO2," diz David Schimel, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. "Todos nós esperávamos vê-la desta vez também."
Defesa contra o metano
O estudo também examinou os níveis de óxido de nitrogênio atmosférico (NOx). Na presença da luz solar, os óxidos de nitrogênio podem reagir com outros compostos atmosféricos para criar ozônio, um gás que é perigoso para a saúde humana, animal e vegetal.
Embora os dados mostrem que as quedas nos níveis de óxidos de nitrogênio relacionadas à queda nas atividades durante pandemia levaram a uma redução do ozônio na maior parte do mundo, o efeito da limitação de NOx na atmosfera foi menos positivo do que se esperava.
Os óxidos de nitrogênio reagem para formar uma molécula de vida curta chamada radical hidroxila, que desempenha um papel importante na quebra de gases de vida longa na atmosfera. Assim, ao reduzir as emissões de NOx - por mais benéfico que isso tenha sido na limpeza da poluição do ar - a pandemia também limitou a capacidade da atmosfera de se purificar de outro importante gás de efeito estufa: O metano.
Assim como aconteceu com o dióxido de carbono, a queda nas emissões não diminuiu a concentração de metano na atmosfera. Em vez disso, o metano cresceu 0,3% mais rápido no ano passado do que nos quatro anos anteriores - uma taxa mais rápida do que em qualquer outro momento da última década. Com menos NOx, havia menos radicais hidroxila para remover o metano.
Os cientistas ainda não têm explicações para esses efeitos inesperados e opostos ao que se esperava, mas afirmam que, ante os dados, não é possível mais dar tanta importância à redução nas atividades econômicas como estratégia para reduzir o aquecimento global.
"Isso sugere que a redução da atividade nesses setores industriais e residenciais não é viável no curto prazo" como forma de reduzir as emissões, concluiu a equipe.
Artigo: Societal shifts due to COVID-19 reveal large-scale complexities and feedbacks between atmospheric chemistry and climate change
Autores: Joshua L. Laughner, Jessica L. Neu, David Schimel, Paul O. Wennberg, Kelley Barsanti, Kevin W. Bowman, Abhishek Chatterjee, Bart E. Croes, Helen L. Fitzmaurice, Daven K. Henze, Jinsol Kim, Eric A. Kort, Zhu Liu, Kazuyuki Miyazaki, Alexander J. Turner, Susan Anenberg, Jeremy Avise, Hansen Cao, David Crisp, Joost de Gouw, Annmarie Eldering, John C. Fyfe, Daniel L. Goldberg, Kevin R. Gurney, Sina Hasheminassab, Francesca Hopkins, Cesunica E. Ivey, Dylan B. A. Jones, Junjie Liu, Nicole S. Lovenduski, Randall V. Martin, Galen A. McKinley, Lesley Ott, Benjamin Poulter, Muye Ru, Stanley P. Sander, Neil Swart, Yuk L. Yung, Zhao-Cheng Zeng
Revista: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 118 (46) e2109481118
DOI: 10.1073/pnas.2109481118